Rodrigo Pimentel, nascido em 2 de março de 1971, no Rio de Janeiro, é uma figura emblemática no cenário da segurança pública e do cinema brasileiro. Ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Pimentel tornou-se amplamente conhecido por sua contribuição para o filme Tropa de Elite (2007) e sua sequência, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010).
Estes filmes, que retratam a realidade crua da violência urbana no Rio de Janeiro, marcaram a história do cinema nacional, e também geraram intensos debates sobre segurança pública, corrupção e o papel da polícia na sociedade brasileira. Este artigo exibe a trajetória de Pimentel, desde sua formação como policial até sua transição para escritor, roteirista e palestrante, destacando como suas experiências pessoais moldaram a criação do icônico Capitão Nascimento e influenciaram o impacto cultural de Tropa de Elite no Brasil.
A Trajetória de Rodrigo Pimentel
Primeiros Anos e Ingresso no BOPE
Rodrigo Pimentel ingressou na Polícia Militar do Rio de Janeiro em 1990, aos 19 anos, movido por uma combinação de idealismo e fascínio pela possibilidade de fazer parte de uma unidade de elite. Em 1994, ele se tornou integrante do BOPE, conhecido como o “esquadrão de elite” da PM, famoso por sua abordagem rigorosa no combate ao crime organizado, especialmente o tráfico de drogas nas favelas cariocas. Como comandante da equipe Alfa do BOPE, Pimentel participou de operações de alto risco, enfrentando situações de extrema violência e lidando com os desafios éticos e morais inerentes à atividade policial em um contexto de guerra urbana.
Durante sua atuação no BOPE, entre 1994 e 2000, Pimentel documentava suas experiências após as missões, registrando os detalhes das operações e os dilemas enfrentados por ele e sua equipe. Esses relatos, inicialmente pessoais, tornaram-se a base para o livro Elite da Tropa, coescrito com André Batista, também ex-BOPE, e o sociólogo Luiz Eduardo Soares.

Publicado em 2006, o livro oferece uma visão semi-ficcional do cotidiano do batalhão, expondo a brutalidade do combate ao tráfico e as tensões internas dentro da corporação, incluindo questões de corrupção e politicagem. A obra causou polêmica ao ser lançada, sendo criticada por alguns como uma apologia à violência policial, enquanto outros a viam como uma denúncia necessária das falhas do sistema de segurança pública.
Saída do BOPE e Transição para Outras Áreas
Em 2001, aos 33 anos, Pimentel pediu exoneração da Polícia Militar, desiludido com o que ele descrevia como uma perda da missão original da polícia de “servir e proteger”. Em uma entrevista para o documentário Notícias de uma Guerra Particular (1999), dirigido por João Moreira Salles, Pimentel expressou sua frustração com a transformação da atividade policial em uma “guerra particular” contra traficantes, um sentimento que ecoaria no filme Tropa de Elite. Sua saída da corporação marcou o início de uma nova fase em sua carreira, na qual ele buscou canalizar suas experiências em outras formas de expressão, como o jornalismo, a consultoria de segurança e a produção cultural.
Pimentel tornou-se comentarista de segurança pública na TV Globo, onde trabalhou por seis anos, até 2015, contribuindo com análises sobre a violência urbana no Rio de Janeiro. Ele também foi articulista do Jornal do Brasil, onde discutia questões relacionadas à segurança e à sociedade carioca. Além disso, sua formação acadêmica — ele é pós-graduado em Sociologia Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) — permitiu-lhe abordar os problemas da segurança pública com uma perspectiva mais ampla, conectando a violência às desigualdades sociais e à urbanização desordenada.
A Gênese de Tropa de Elite
Do Documentário à Ficção
A conexão de Pimentel com o cinema começou durante a produção do documentário Notícias de uma Guerra Particular, no qual ele foi entrevistado sobre sua experiência no BOPE. Esse projeto o aproximou do cineasta José Padilha, que mais tarde dirigiria Ônibus 174 (2002), documentário sobre o sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro, no qual Pimentel atuou como co-produtor. Durante as filmagens de Ônibus 174, Pimentel compartilhou com Padilha sua ideia de criar uma ficção baseada em suas vivências no BOPE, mesclando relatos pessoais com histórias de outros policiais. Essa conversa plantou a semente para Tropa de Elite.
Inicialmente, Padilha planejava produzir um novo documentário baseado em Elite da Tropa, mas a complexidade das histórias e a potência dramática dos relatos levaram à decisão de criar um filme de ficção. Pimentel colaborou no roteiro do primeiro filme ao lado de Padilha e Bráulio Mantovani, trazendo autenticidade às cenas e diálogos, que refletiam a intensidade e os dilemas do trabalho no BOPE. O filme, lançado em 2007, foi estrelado por Wagner Moura no papel do Capitão Roberto Nascimento, um personagem que, embora fictício, foi inspirado nas experiências de Pimentel e outros policiais do batalhão.

O Capitão Nascimento e a Controvérsia
O Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, tornou-se um ícone cultural no Brasil. Embora Pimentel tenha esclarecido que o personagem não é um autorretrato, mas sim uma construção ficcional baseada em suas experiências e nas de outros colegas, muitos associaram Nascimento diretamente a ele, especialmente devido à semelhança física entre Pimentel e Moura. O personagem, com sua postura implacável e dilemas pessoais, capturou a atenção do público, mas também gerou polêmicas. Enquanto alguns espectadores viam Nascimento como um herói que enfrentava o crime com determinação, outros o consideravam uma representação de práticas policiais brutais e autoritárias.
A controvérsia em torno de Tropa de Elite foi amplificada pela recepção crítica. O filme foi acusado por alguns de glorificar a violência policial, enquanto outros o elogiaram por expor as falhas estruturais do sistema de segurança pública. O crítico Artur Xexéo, do jornal O Globo, defendeu o filme, comparando as acusações contra Padilha à ideia de acusar Francis Ford Coppola de apoiar a máfia por dirigir O Poderoso Chefão.
Já a revista Variety classificou o filme como “fascista”, destacando sua abordagem crua e direta. Apesar das críticas, Tropa de Elite foi um sucesso de bilheteria, atraindo 2,5 milhões de espectadores no Brasil até janeiro de 2008 e ganhando o Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2008.
Impacto Cultural e Sequência
Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro
O sucesso do primeiro filme levou à produção de Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010), também dirigido por José Padilha, com roteiro de Pimentel, Padilha e Bráulio Mantovani. A sequência aprofunda a crítica ao sistema, explorando a relação entre a polícia, as milícias e a corrupção política no Rio de Janeiro. Pimentel destacou que, enquanto o conflito familiar de Nascimento é ficcional, as histórias envolvendo milícias foram baseadas em fatos reais, refletindo a crescente influência desses grupos na cidade. O filme quebrou recordes, tornando-se o mais assistido da história do cinema brasileiro, com 11 milhões de espectadores, superando a marca de Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976).
Tropa de Elite 2 ampliou o debate iniciado pelo primeiro filme, abordando não apenas a violência nas favelas, mas também a corrupção sistêmica que permeia as instituições. Pimentel, que também fez uma ponta no filme, contribuiu com sua consultoria para garantir a autenticidade das cenas, incluindo o uso de um helicóptero da Polícia Civil para tomadas aéreas e a participação de policiais reais, como a capitã Priscilla Azevedo, em papéis menores.
Legado e Discussões sobre Segurança Pública
Os filmes Tropa de Elite tiveram um impacto profundo na sociedade brasileira, influenciando a percepção pública sobre a polícia e o crime organizado. Segundo o Datafolha, 77% dos moradores de São Paulo conheciam o primeiro filme, e 80% o avaliaram como “excelente” ou “bom”. A popularidade do Capitão Nascimento, no entanto, surpreendeu até mesmo José Padilha, que não esperava que o personagem fosse elevado à condição de herói por parte do público.
Pimentel, em entrevistas, defendeu que os filmes não fazem apologia à violência, mas sim expõem a realidade complexa da segurança pública. Ele criticou tentativas de censura por ONGs que alegavam que Tropa de Elite promovia a tortura, argumentando que a obra é uma reflexão artística sobre a violência urbana. Além disso, Pimentel destacou a importância de políticas públicas que combinem repressão ao crime com investimentos em educação, esporte e cultura para reduzir a criminalidade.
Além do Cinema: Palestrante e Consultor
Após o sucesso de Tropa de Elite, Pimentel consolidou-se como palestrante motivacional, utilizando sua experiência no BOPE para traçar paralelos com o mundo corporativo. Em sua palestra Construindo Tropas de Elite, ele aborda temas como liderança, trabalho em equipe, superação de limites e foco em resultados, aplicando os princípios das operações especiais do BOPE ao gerenciamento de crises e à busca por excelência em empresas. Sua abordagem, que combina histórias reais com lições práticas, tornou-o um dos palestrantes mais requisitados do Brasil.
Pimentel também lançou o livro Elite da Gestão: Todo Executivo Lidera Operações Especiais (2018), coescrito com um comandante do BOPE, no qual explora como os conceitos de liderança e estratégia do batalhão podem ser aplicados ao mundo corporativo. Além disso, ele continuou a trabalhar no cinema, roteirizando o filme Intervenção, É Proibido Morrer (2021), que retrata a crise das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro.
Rodrigo Pimentel é uma figura multifacetada cuja trajetória reflete os desafios e contradições da sociedade brasileira. De capitão do BOPE a escritor, roteirista e palestrante, ele transformou suas experiências em narrativas que impactaram milhões de pessoas.
Tropa de Elite e sua sequência trouxeram à tona a realidade da violência urbana no Rio de Janeiro, além de estimularam reflexões sobre corrupção, desigualdade e o papel da polícia. Apesar das controvérsias, o legado de Pimentel no cinema e na discussão sobre segurança pública é inegável, consolidando-o como uma voz influente na cultura brasileira contemporânea.