Arma Antitanque AT4 do Brasil: História, Orçamento, Missões, Futuro e Comparação

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O lançador de foguetes AT4 é uma das armas antitanque mais conhecidas e difundidas no mundo, estando também em uso pelas Forças Armadas do Brasil. Com sua simplicidade de operação, portabilidade e letalidade comprovada, o AT4 ocupa um papel importante nas doutrinas de infantaria leve e forças expedicionárias.

Este artigo analisa em profundidade a história do AT4, seu uso no Brasil, detalhes de orçamento e aquisição, missões e emprego tático, o futuro dessa arma no país, além de uma comparação com outros sistemas antitanque.

História do AT4: Um Projeto Sueco com Impacto Global

O AT4 foi desenvolvido pela empresa sueca FFV Ordnance (hoje Saab Bofors Dynamics) na década de 1980 para substituir o lendário Carl Gustav M2 em algumas funções. Apesar de o Carl Gustav ser recarregável e mais flexível, havia demanda por um sistema descartável, leve e fácil de treinar, com grande efeito contra blindagem.

O conceito do AT4 foi inspirado no design americano do M72 LAW, mas com melhorias consideráveis:

  • Tubo rígido de fibra de vidro mais resistente
  • Maior calibre (84 mm)
  • Cabeça de guerra mais potente, capaz de penetrar blindagens modernas

O nome AT4, lido como “A-T-four” em inglês, faz alusão a “Anti-Tank, 84 mm”. Sua produção começou em 1984 e rapidamente se espalhou por mais de 40 países, inclusive os EUA, que o adquiriram sob a designação M136.

O sucesso do AT4 se deve à combinação de baixo custo, simplicidade de treinamento e efetividade comprovada em teatros como o Afeganistão e o Iraque.

Características Técnicas do AT4

O AT4 é um lançador de foguetes antitanque de disparo único e descartável. Entre suas principais características técnicas, destacam-se:

  • Calibre: 84 mm
  • Comprimento: ~1 metro
  • Peso total: 6,7 kg (varia conforme versão)
  • Alcance efetivo: 300 metros (contra alvos blindados)
  • Alcance máximo: 2.100 metros
  • Penetração: até ~420 mm de blindagem homogênea laminada (RHA), dependendo da carga oca
  • Tipos de munição: HEAT (carga oca), HEDP (alto explosivo-dual purpose), CS (confined space, para disparo em ambientes fechados)

A versão básica mais usada internacionalmente é o AT4-CS, que permite disparo em ambientes confinados com menor risco para o operador.

O AT4 no Brasil: Histórico de Aquisição e Orçamento

O Brasil adquiriu o AT4 para suprir a necessidade de um lançador anticarro leve descartável, complementar ao Carl Gustav M3 (recarregável) e ao antigo M20 “Super Bazuca” (que foi aposentado).

O Exército Brasileiro confirmou a compra inicial de ~1.000 unidades na primeira leva no início dos anos 2000. Posteriormente, novas aquisições ocorreram para ampliar os estoques e manter o treinamento das tropas.

Não há detalhes públicos completos sobre o orçamento detalhado por unidade para o Brasil. Em compras internacionais, o custo estimado unitário do AT4 gira entre US$ 1.500 e US$ 3.000, dependendo da versão. Contratos maiores têm preços médios mais baixos, o que indica que o Brasil provavelmente pagou algo na faixa inferior desse intervalo em compras de lote.

Em 2021-2023, o Exército e a Marinha seguiram investindo em munições anticarro e em treinamentos, mas sem anúncios de novos contratos significativos exclusivos para o AT4. No entanto, o Comando Logístico (COLOG) menciona em planejamento plurianual a intenção de manter estoques estratégicos de armas descartáveis antitanque.

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Missões e Doutrina de Emprego no Brasil

O AT4 foi integrado à doutrina brasileira para a defesa anticarro de unidades de infantaria leve e de forças de fuzileiros navais.

Em cenários brasileiros, seu emprego tático segue alguns princípios:

  • Arma de oportunidade: contra blindados leves ou veículos de transporte de tropas
  • Arma de demolição: para destruir casamatas, fortificações leves ou abrir passagens em muros
  • Arma de saturação em emboscadas: múltiplos lançadores podem alvejar um alvo simultaneamente

Os principais usuários no Brasil são:

  • Infantaria Motorizada e Mecanizada do Exército Brasileiro
  • Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil
  • Unidades de Forças Especiais para missões de sabotagem ou emboscada

Para treinamento, o Exército utiliza versões inertes (de instrução) e simuladores, reduzindo custos operacionais.

Vantagens na Doutrina Brasileira

O Brasil tem vastos territórios de selva, cerrado e áreas urbanas complexas. O AT4 se encaixa bem nessa realidade:

  • Simples de operar (mesmo por soldados com treinamento básico)
  • Leve o bastante para patrulhas a pé
  • Descartável, sem logística de recarga
  • Letal contra veículos leves, APCs, fortificações improvisadas

Essas características permitem ao Brasil distribuir o AT4 em pelotões de infantaria, aumentando a capacidade de negação de área contra blindados.

Orçamento e Logística de Sustentação

Apesar de não haver publicações oficiais detalhadas sobre os contratos, estimativas internacionais de preço por unidade (US$ 1.500–3.000) sugerem que a compra brasileira inicial (cerca de 1.000 unidades) pode ter ficado na casa de US$ 1,5–2 milhões (valores históricos).

Custos adicionais incluem:

  • Logística de transporte e armazenamento seguro
  • Treinamento e simuladores
  • Compras periódicas para substituir estoques envelhecidos

O AT4 tem vida útil limitada (em geral 10-20 anos armazenado). O Brasil deve, portanto, substituir gradualmente as unidades mais antigas.

Em termos de orçamento, a arma representa um dos meios mais baratos para manter capacidade anticarro, se comparado com mísseis guiados como o Spike ou o MSS 1.2.

Perspectivas Futuras no Brasil

As Forças Armadas do Brasil têm buscado modernizar sua capacidade anticarro. Os lançadores descartáveis como o AT4 continuam sendo essenciais para infantaria leve, mas há desafios:

  • Estoques antigos precisam de substituição periódica
  • Cresce a ameaça de blindados com blindagem reativa/explosiva
  • Necessidade de munições com penetração aprimorada

O futuro pode incluir:

  • Compras adicionais de AT4 (incluindo versões CS ou HEAT mais modernas)
  • Integração com sistemas complementares como o Carl Gustav M4 (já em aquisição)
  • Uso de mísseis guiados (Spike LR, MSS 1.2 AC) para alvos mais pesados

O Exército e a Marinha já sinalizaram interesse em manter diversidade de sistemas, combinando armas baratas e leves (AT4) com mísseis caros e sofisticados.

Tabela Comparativa: AT4 vs Outras Armas Antitanque

A seguir, uma tabela comparativa com armas anticarro relevantes usadas ou avaliadas no Brasil:

SistemaTipoAlcance efetivoPenetração (RHA)Peso aproximadoCusto unitário (estimado)Observações
AT4Lançador descartável300 m~420 mm~6,7 kgUS$ 1.500–3.000Barato, fácil de treinar, único disparo
Carl Gustav M4Lançador recarregável500–1.000 m~500 mm (HEAT)~7 kg (tubo vazio)~US$ 20.000 (tubo)Recarregável, diversas munições
MSS 1.2 ACMíssil guiado (nacional)~2.000 m~700 mm~16 kg~US$ 50.000–100.000Guiado, alto custo, maior alcance
Spike LRMíssil guiado importado~4.000 m~800 mm~13 kg (míssil)~US$ 150.000–200.000Guiado, alcance e penetração superiores
M72 LAWLançador descartável~200 m~300 mm~2,5 kgUS$ 1.000–2.000Mais leve, menos potente que o AT4

Essa tabela ilustra o papel complementar do AT4: arma barata para combate aproximado, liberando sistemas caros para alvos mais prioritários.

Informações extras

1. Treinamento

O Exército Brasileiro usa versões de instrução do AT4 para reduzir custos. Os soldados treinam com simuladores óticos e lançadores inertes antes de usar munição real. Isso garante boa familiaridade mesmo sem disparar continuamente munição de verdade, que é cara e gera riscos.

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2. Variantes Modernas

A Saab continua modernizando o AT4. Entre as versões avançadas:

  • AT4-CS HP (High Penetration): maior penetração contra blindagem moderna
  • AT4-CS AST (Anti-Structure): ideal para destruição de bunkers
  • AT4-RF (Range-Finder): mira melhorada com telêmetro

Essas variantes podem interessar ao Brasil no futuro, especialmente para operações urbanas ou contra fortificações.

3. Capacidade de Operação em Espaços Confinados

Uma limitação inicial do AT4 era o backblast (fluxo de gases ao disparar). Em ambientes fechados, isso podia ferir o atirador. A versão CS (Confined Space) resolve esse problema usando um contrapeso líquido, permitindo disparos em prédios, selva densa ou veículos.

Isso é muito relevante para o Brasil, que tem operações em favelas, selva e ambientes urbanos.

4. Papel em Missões de Paz

O Exército Brasileiro já empregou o AT4 em missões de paz, como no Haiti. Mesmo que não tenha sido disparado em combate real nessas missões, sua presença serviu como dissuasão, demonstrando que as tropas estavam preparadas para enfrentar ameaças blindadas.

Principais críticas ao AT4

1. Descartável = custo logístico de reposição

Uma das maiores críticas ao AT4 é que ele só pode ser disparado uma vez. Depois, o tubo é descartado. Em exercícios ou combate real, se você usar muitas unidades, o custo total sobe rápido.

Para o Brasil, isso significa:

  • Precisar manter grandes estoques para treinar e combater
  • Planejar compras periódicas para substituir lançadores usados ou vencidos

Enquanto um Carl Gustav, por exemplo, pode disparar dezenas ou centenas de vezes (só comprando a munição), o AT4 requer comprar o tubo inteiro novo a cada disparo.

2. Penetração limitada para blindagem moderna

O AT4 básico foi desenvolvido nos anos 1980. Embora eficaz contra blindados leves e APCs, não foi projetado para penetrar tanques modernos com blindagem reativa ou composta avançada.

Exemplos de limitações:

  • Blindagem explosiva reativa (ERA) reduz drasticamente a efetividade
  • Tanques principais (MBTs) atuais exigem mísseis mais potentes

Para alvos pesados, os exércitos precisam usar mísseis guiados (Spike, Javelin, Kornet), muito mais caros — mas muito mais eficazes.

3. Alcance relativamente curto

O alcance efetivo do AT4 (~300 metros) é suficiente para emboscadas e combate urbano, mas limitado para combates abertos ou ofensivas em terreno descampado.

Isso deixa o atirador exposto a:

  • Artilharia inimiga
  • Metralhadoras pesadas
  • Fogo de canhão de veículo antes mesmo de poder disparar

Em terrenos abertos, mísseis guiados (com 2–4 km de alcance) são muito mais seguros para o operador.

4. Mira simples e sem guiagem

O AT4 usa miras ópticas simples, sem guiagem. Isso traz vantagens (baixo custo, robustez), mas também limitações:

  • Menor precisão contra alvos em movimento
  • Não permite correção de trajetória após o disparo
  • Exige mais treino para bom acerto

Em comparação, mísseis modernos têm mira térmica e correção em voo.

5. Backblast (fluxo de gases para trás)

Ainda que versões CS (Confined Space) tenham resolvido parte do problema, versões mais antigas ou convencionais do AT4 têm risco alto de backblast, o que:

  • Restringe disparo em ambientes confinados
  • Cria risco para outros soldados próximos
  • Revela a posição do atirador (nuvem de poeira/gás)

Isso exige cuidado tático, escolha de posição e treinamento específico.

6. Peso maior que alternativas mais antigas

Comparado ao M72 LAW (outro lançador descartável), o AT4 é mais pesado (~6,7 kg vs ~2,5 kg).

Mesmo sendo mais potente, isso é um fator para tropas leves que precisam carregar munição, água, alimentos, comunicações etc.

7. Vida útil limitada

Por ser pré-carregado e selado de fábrica, o AT4 vence com o tempo (10–20 anos). Isso gera:

  • Custo de descarte seguro
  • Necessidade de substituição constante

Para forças com orçamento apertado, manter estoques em validade é um desafio.

8. Dependência de fornecedor estrangeiro

O Brasil não fabrica o AT4 localmente. Ele depende de importação (Saab Bofors Dynamics, Suécia). Isso implica:

  • Exposição a variações cambiais
  • Necessidade de negociação internacional
  • Dependência política/diplomática

O AT4 é hoje um dos principais meios anticarro leves do Brasil, preenchendo a lacuna entre o fogo de armas leves e mísseis guiados de alto custo. Sua simplicidade, preço relativamente baixo e versatilidade justificam sua popularidade global e sua adoção pelas Forças Armadas brasileiras.

O futuro aponta para um mix de sistemas, onde o AT4 continuará relevante para o combate aproximado e defesa de área, complementado por armas recarregáveis como o Carl Gustav e mísseis como o Spike.

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