Fragatas Classe Tamandaré: Um Marco na Modernização da Marinha do Brasil

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As Fragatas Classe Tamandaré representam um dos projetos mais ambiciosos e estratégicos da Marinha do Brasil (MB) no século XXI. Iniciado em 2017, o Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT) visa renovar a esquadra naval brasileira com a construção de quatro navios modernos, de alta complexidade tecnológica, no estaleiro thyssenkrupp Estaleiro Brasil Sul (tkEBS), em Itajaí, Santa Catarina.

Veja agora as especificações técnicas, os sistemas de armamento, a importância estratégica, o impacto econômico e os desafios enfrentados pelo programa, com base nas informações mais recentes disponíveis.

Contexto e Objetivo do Programa

O PFCT foi concebido como parte do plano de modernização da frota de superfície da Marinha do Brasil, intitulado “Construção do Núcleo de Poder Naval”. Seu principal objetivo é substituir as fragatas da Classe Niterói, em operação desde a década de 1970, e as fragatas Type 22 adquiridas de segunda mão do Reino Unido na década de 1990, além das corvetas da Classe Inhaúma. Essas embarcações, embora ainda operacionais, estão tecnologicamente defasadas e não atendem plenamente às demandas de defesa marítima do Brasil, especialmente na proteção da chamada “Amazônia Azul”, uma área marítima de aproximadamente 5,7 milhões de km² que abrange as Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB).

As fragatas Classe Tamandaré são projetadas para serem escoltas versáteis, com elevado poder de combate, capazes de enfrentar múltiplas ameaças em ambientes de guerra naval, incluindo superfície, aéreo e submarino. Elas desempenharão papéis como proteção do tráfego marítimo, patrulha das AJB, fiscalização de atividades econômicas (como exploração petrolífera e pesqueira) e apoio a operações de diplomacia naval em missões internacionais. O programa também busca fortalecer a Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, promovendo transferência de tecnologia, geração de empregos e nacionalização de componentes.

Especificações Técnicas

As Fragatas Classe Tamandaré são baseadas no conceito modular MEKO (Mehrzweck-Kombination, ou “combinação multifuncional” em alemão), desenvolvido pela thyssenkrupp Marine Systems (TKMS). Originalmente projetadas como uma variante da corveta MEKO A-100, as embarcações foram redesignadas como fragatas em 2019, refletindo seu aumento de deslocamento e capacidades expandidas. As principais características técnicas das fragatas, conforme informações recentes, são:

  • Comprimento: 107,2 metros
  • Boca: 15,95 metros
  • Pontal (altura): 20,2 metros
  • Deslocamento: Aproximadamente 3.500 toneladas
  • Autonomia: 5.500 milhas náuticas (cerca de 10.186 km) a velocidade de cruzeiro
  • Velocidade Máxima: 25 nós (equivalente a 47 km/h)
  • Tripulação: Cerca de 130 militares, incluindo oficiais e praças, todos em treinamento especializado
  • Capacidade de Transporte: Espaço para uma aeronave (helicóptero, como o Seahawk) e até 136 pessoas, incluindo tripulação adicional para missões específicas

O projeto modular MEKO permite atualizações futuras com relativa facilidade, reduzindo custos de manutenção e modernização ao longo do ciclo de vida das embarcações, estimado em 25 a 30 anos. A construção é realizada em blocos, o que facilita a instalação de equipamentos e sistemas em etapas segregadas, otimizando o processo produtivo.

Sistemas de Armamento e Sensores

As Fragatas Classe Tamandaré são equipadas com sistemas de ponta, projetados para enfrentar ameaças modernas. Abaixo estão os principais sistemas de armamento e sensores, conforme informações disponíveis:

Sensores

  • Radar Hensoldt TRS-4D AESA: Um radar de varredura eletrônica ativa capaz de rastrear até 1.500 alvos simultaneamente, com alcance de até 250 km. Este sistema proporciona detecção e acompanhamento de ameaças aéreas, de superfície e, em certa medida, subsuperfície.
  • Suíte MAGE Defensor: Desenvolvida pela empresa brasileira Omnisys, esta suíte de guerra eletrônica inclui medidas de suporte eletrônico (ESM), contramedidas eletrônicas (ECM) e inteligência de sinais eletrônicos (ELINT), garantindo capacidades avançadas de detecção e neutralização de ameaças eletrônicas.
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Armamento

  • Mísseis Antinavio: As fragatas serão equipadas com o Míssil Antinavio Nacional de Superfície (MANSUP), desenvolvido em parceria com o Grupo EDGE dos Emirados Árabes Unidos. O MANSUP é um marco na indústria de defesa brasileira, oferecendo alcance e precisão para engajamento de alvos navais.
  • Sistema de Lançamento Vertical (VLS): Cada fragata possui 12 células de lançamento vertical para mísseis superfície-ar CAMM (Common Anti-Air Modular Missile), permitindo defesa contra ameaças aéreas, como aeronaves e mísseis. Apesar de críticas sobre a quantidade limitada de lançadores (12 por navio), o sistema é compatível com o cenário operacional sul-americano, embora haja debates sobre sua adequação contra ameaças globais mais avançadas.
  • Canhões: O sistema de armas de proximidade (CIWS) Sea Snake, fornecido pela Rheinmetall, utiliza um canhão revolver de 30 mm com munição de explosão aérea (ABM), eficaz contra alvos aéreos e de superfície de curto alcance.
  • Torpedos e Metralhadoras: As fragatas contarão com tubos de torpedos para combate antisubmarino e metralhadoras para defesa de curto alcance, embora detalhes específicos sobre esses sistemas ainda sejam limitados.

Sistemas de Gerenciamento

  • Sistema de Gerenciamento de Combate (CMS): Fornecido pela Atech, subsidiária da Embraer, o CMS é uma versão adaptada do Atlas ANCS, projetada para atender aos requisitos brasileiros. Ele integra sensores, armas e sistemas de comunicação, permitindo operações coordenadas em ambientes complexos.
  • Sistema Integrado de Gerenciamento da Plataforma (IPMS): Também desenvolvido pela Atech, o IPMS gerencia os sistemas de propulsão, energia e outras funções vitais do navio, garantindo eficiência operacional.

Embora as fragatas sejam compatíveis com mísseis de cruzeiro para ataque terrestre, elas não serão equipadas com esses sistemas inicialmente, focando em missões de defesa e patrulha.

Progresso da Construção

O PFCT tem avançado conforme o cronograma estabelecido, com marcos significativos alcançados até abril de 2025:

  • Fragata Tamandaré (F200): O primeiro navio da classe teve seu corte de chapa em setembro de 2022 e foi lançado ao mar em agosto de 2024, em uma cerimônia na tkEBS. Atualmente, está na fase de comissionamento, com instalação de equipamentos e testes de cais. A entrega à Marinha está prevista para 2025.
  • Fragata Jerônimo de Albuquerque (F201): O batimento de quilha ocorreu em junho de 2024, com o corte de chapa em novembro de 2023. O lançamento ao mar está programado para agosto de 2025, com entrega prevista para 2026.
  • Fragata Cunha Moreira (F202): O corte de chapa foi realizado em novembro de 2024, marcando o início da construção da terceira fragata. A entrega está prevista para 2027.
  • Fragata Mariz e Barros (F203): A construção está planejada para iniciar em breve, com entrega prevista para 2028.

A construção simultânea de três fragatas (F200, F201 e F202) é um feito inédito no Brasil, destacando a capacidade do estaleiro tkEBS e a eficiência do consórcio Águas Azuis, formado por thyssenkrupp Marine Systems, Embraer Defesa & Segurança e Atech.

Impacto Econômico e Transferência de Tecnologia

O PFCT é um catalisador para o desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil. A construção das fragatas gera cerca de 2.000 empregos diretos, 6.000 indiretos e 15.000 induzidos, totalizando aproximadamente 23.000 empregos. O programa prevê índices de conteúdo local de 30% no primeiro navio e 40% a partir do segundo, promovendo a nacionalização de sistemas e a capacitação da indústria brasileira.

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A transferência de tecnologia é um pilar central do projeto. A TKMS fornece a plataforma MEKO, enquanto a Atech e a Embraer integram sensores, armas e sistemas de gerenciamento. A construção em blocos modulares facilita a transferência de know-how em engenharia naval, soldagem, controle dimensional e gestão de software. Além disso, o programa inclui a modernização dos submarinos Classe Tupi, como parte do acordo de compensação com a TKMS.

O investimento total do programa é estimado em R$ 11,1 bilhões (cerca de US$ 2,2 bilhões), com cada fragata custando aproximadamente US$ 555 milhões. O Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) destinou R$ 1 bilhão em 2024 para a construção da terceira fragata, com mais R$ 4,3 bilhões previstos até 2026.

Desafios e Críticas

Apesar dos avanços, o PFCT enfrenta desafios significativos. Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) de novembro de 2024 apontou deficiências na estimativa dos custos do ciclo de vida das fragatas, incluindo falta de precisão, documentação inadequada e desrespeito a normas internacionais. O custo unitário por navio subiu de US$ 350 milhões (estimativa de 2012) para US$ 588 milhões em 2019, levantando preocupações sobre a viabilidade financeira do programa. O TCU também questionou a redução do ciclo de vida estimado de 30 para 25 anos, sem justificativa clara.

Críticas técnicas incluem a limitação de 12 lançadores VLS por navio, considerada insuficiente por alguns analistas para enfrentar ameaças globais mais avançadas. Comparações com fragatas de outras marinhas, como a FREMM egípcia (US$ 600 milhões por unidade) e a MEKO A200N da Argélia (com 16 células VLS), sugerem que as Tamandaré poderiam ser mais bem armadas pelo mesmo custo.

Perspectivas Futuras

A Marinha do Brasil planeja expandir o programa com um segundo lote de quatro fragatas (F204 a F207), conforme indicado em um infográfico de 2024 e na Estratégia de Defesa Marítima (EDM) de 2023. Essa expansão visa atingir um total de oito escoltas para proteger a Amazônia Azul até 2040. Além disso, a TKMS propôs o destróier MEKO A-400 (7.200 toneladas) para atender à demanda futura por navios de maior porte.

As Fragatas Classe Tamandaré representam um marco na modernização da Marinha do Brasil, combinando tecnologia de ponta, transferência de conhecimento e impacto econômico significativo. Apesar dos desafios financeiros e técnicos, o programa demonstra o compromisso do Brasil com a soberania marítima e o fortalecimento de sua indústria de defesa.

Com a entrega das quatro fragatas previstas até 2028 e a possibilidade de um segundo lote, as Tamandaré consolidarão a posição do Brasil como uma potência naval no Atlântico Sul, pronta para proteger seus interesses na Amazônia Azul e contribuir para a diplomacia naval global.

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