As Maiores Operações Policiais da História do Brasil

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O Brasil, com sua vasta extensão territorial e complexas dinâmicas sociais, tem uma longa história de confrontos entre forças de segurança e o crime organizado. Desde a redemocratização na década de 1980, as operações policiais ganharam destaque como ferramenta central no combate ao narcotráfico, às milícias e às facções criminosas que controlam territórios periféricos, especialmente nas favelas do Rio de Janeiro.

Essas ações, muitas vezes envolvendo milhares de agentes, tanques blindados e apoio militar, representam tentativas de reafirmar o monopólio estatal da força em áreas dominadas pelo crime.

As maiores operações policiais do país são marcadas por sua escala, letalidade e impacto social. Elas variam de invasões rápidas e letais a ocupações prolongadas, com objetivos que vão desde a prisão de líderes até a instalação de estruturas permanentes de pacificação. No Rio de Janeiro, epicentro dessas ações, o conflito armado pelo controle das favelas resultou em milhares de mortes ao longo das décadas. De acordo com dados de institutos como o Fogo Cruzado, mais de 8 mil pessoas foram mortas em operações policiais na cidade entre 2006 e 2024.

Este artigo detalha as dez maiores operações policiais da história brasileira, selecionadas por critérios como número de agentes envolvidos, extensão territorial coberta e número de vítimas. Elas ilustram a evolução das táticas de segurança pública: das incursões violentas dos anos 1990 às ocupações federais dos 2010, passando pelas ações da era recente.

As Operações dos Anos 1990 e Início dos 2000: Raízes da Violência Estrutural

As primeiras grandes operações policiais no Brasil moderno surgiram em resposta à explosão do tráfico de drogas nas favelas cariocas, impulsionada pela cocaína colombiana nos anos 1980. Essas ações eram caracterizadas por incursões surpresa, com alto índice de letalidade.

Complexo do Alemão (1994)

Em julho de 1994, o Complexo do Alemão, um aglomerado de 12 favelas na Zona Norte do Rio, tornou-se palco de uma das primeiras megaoperações contra o nascente Comando Vermelho (CV). Com cerca de 1.500 policiais militares e civis mobilizados, a ação visava desmantelar pontos de venda de drogas e prender traficantes armados com fuzis AR-15 contrabandeados. O confronto durou 48 horas, com tiroteios intensos em vielas estreitas e morros íngremes.

O saldo foi de 14 mortos, todos suspeitos segundo a versão oficial, além de 20 feridos e a apreensão de 500 quilos de maconha e cocaína. No entanto, relatos de moradores apontavam para execuções sumárias e invasões domiciliares sem mandados. A operação expôs a fragilidade do Estado: traficantes escaparam para áreas vizinhas, e a favela permaneceu sob controle do crime.

Esse episódio marcou o início de uma ciclo de retaliações, com ataques a ônibus e comércios nos meses seguintes. Anos depois, investigações revelaram corrupção em unidades policiais envolvidas, destacando como essas ações, apesar da escala, falhavam em raízes estruturais como pobreza e falta de serviços públicos.

Complexo do Alemão (1995)

Apenas um ano após a operação anterior, em março de 1995, forças policiais retornaram ao Alemão com reforços de helicópteros e blindados. Mobilizando 1.200 agentes, o foco era capturar líderes remanescentes do CV que haviam se reorganizado. A ação, batizada informalmente de “Retomada”, envolveu cerco total à favela, com bloqueios em acessos principais.

Resultou em 13 mortes, incluindo dois adolescentes identificados como “olheiros” (vigias do tráfico), e a destruição de barricadas de areia e pneus queimados. Foram apreendidas 15 armas pesadas e 300 quilos de entorpecentes. Moradores relataram pânico generalizado, com famílias presas em casa por dias.

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A operação gerou críticas da imprensa por sua repetição, sugerindo uma estratégia reativa em vez de preventiva. Ela reforçou a narrativa de “guerra urbana”, mas não impediu o fortalecimento do CV, que usou os confrontos para recrutar jovens locais desiludidos.

Senador Camará (2003)

Na Baixada Fluminense, a operação em Senador Camará, em novembro de 2003, representou um pico de violência em uma região periférica marcada por milícias incipientes. Com 800 policiais, a ação visava desarticular redes de extorsão e tráfico que aterrorizavam comunidades. Helicópteros sobrevoaram o bairro por horas, enquanto tropas avançavam casa a casa.

O confronto deixou 15 mortos, a maioria em tiroteios na mata adjacente, e 10 feridos graves. Apreensões incluíram 40 pistolas e R$ 50 mil em dinheiro sujo. Diferente das ações no Rio capital, essa operação destacou o papel das milícias, grupos paramilitares formados por ex-policiais.

Críticos apontaram para conivência de agentes, e o episódio levou a uma CPI na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Apesar do impacto imediato, a letalidade reforçou o ciclo de vingança, com assassinatos de PMs nos meses subsequentes.

A Escalada dos Anos 2000: De Incursões a Ocupações

Com o agravamento da violência pré-Copa do Mundo de 2014, as operações ganharam caráter mais estruturado, incorporando forças federais e militares. A letalidade permaneceu alta, mas o foco mudou para controle territorial.

Morro do Vidigal (2006)

Em dezembro de 2006, o Morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio, foi invadido por 1.000 agentes em uma operação contra o Terceiro Comando Puro (TCP). O bairro, vizinho a áreas nobres como Leblon, sofria com tiroteios que afetavam o turismo. Blindados da Polícia Militar romperam barricadas, enquanto snipers posicionados em morros vizinhos cobriam o avanço.

Foram registradas 13 mortes, incluindo um líder do TCP, e 25 prisões. Apreendidas 20 armas e 200 quilos de drogas. A ação durou 36 horas e resultou em toque de recolher forçado. Moradores elogiaram o fim temporário dos disparos, mas denunciaram saques e abusos. Essa operação precedeu a onda de violência de 2006-2007, quando facções retaliaram com ataques coordenados à polícia.

Complexo do Alemão (2007)

A operação de junho de 2007 no Alemão mobilizou 1.400 policiais e federais, em resposta a uma série de atentados do CV. Foi uma das mais letais até então, com 19 mortos em confrontos ferozes, incluindo um policial. Helicópteros dispararam contra posições de traficantes, e tanques avançaram pelas ruas principais.

Apreensões somaram 30 fuzis e toneladas de entorpecentes. A ação expôs a sofisticação do crime, com drones primitivos usados por bandidos para vigilância.

Catumbi (2007)

Poucos meses depois, em outubro de 2007, o bairro de Catumbi, no Centro do Rio, viu 900 agentes invadirem áreas controladas por milícias. O foco era extorsão a moradores e comércio. Tiroteios deixaram 13 mortos, e 15 foram presos.

A operação apreendeu 25 armas e veículos blindados improvisados. Diferente das favelas, Catumbi misturava tráfico e milícias, complicando a dinâmica. O saldo incluiu denúncias de execuções, levando a investigações internas na PM. Ela destacou a expansão das milícias para áreas urbanas, um fenômeno que persiste até hoje.

A Era das Ocupações Federais: 2010-2014

Com a proximidade de megaeventos esportivos, o governo federal interveio diretamente, usando as Forças Armadas para ocupações prolongadas.

Ocupação do Complexo do Alemão (2010)

Em novembro de 2010, 2.600 policiais e militares ocuparam o Alemão após uma semana de cerco pelo Exército. A ação, televisionada ao vivo, culminou no hasteamento da bandeira brasileira no topo do morro, simbolizando vitória simbólica. Duração: meses, com instalação de UPPs.

Mortes: 3 suspeitos. Apreensões: 10 toneladas de drogas, 50 fuzis. Moradores celebraram o fim do “toque de recolher” imposto pelo CV, mas a pacificação foi temporária. Custou bilhões em investimentos sociais, mas facções se reorganizaram. Foi um marco midiático, mas criticado por priorizar imagem sobre reformas.

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Ocupação do Complexo da Maré (2014)

Iniciada em março de 2014, a ocupação da Maré, o maior complexo de favelas do Rio (16 comunidades), envolveu 2.700 militares e policiais federais. Duração: 15 meses, até junho de 2015. Objetivo: pacificar para a Copa e Olimpíadas.

Homicídios caíram 75%, de 21 para 5 por 100 mil habitantes. Mortes em confronto: cerca de 20, incluindo um soldado. Apreensões: centenas de armas. A saída das tropas em 2015 viu retorno parcial do crime, questionando a sustentabilidade.

Operações Recentes: Letalidade e Controvérsias (2019-2023)

Nos últimos anos, ações isoladas voltaram a dominar, com letalidade recorde sob governos de linha dura.

Fallet/Fogueteiro (2019)

Em fevereiro de 2019, 600 agentes invadiram as favelas de Fallet e Fogueteiro, no Centro do Rio, contra o CV. Tiroteios deixaram 15 mortos e 10 feridos.

Apreensões: 15 fuzis. A operação, filmada por drones policiais, gerou debates sobre transparência. Moradores relataram balas perdidas atingindo civis, e o STF questionou violações à ADPF 635, que regula ações em favelas.

Jacarezinho (2021)

Maio de 2021: 400 policiais civis entraram no Jacarezinho sem planejamento conjunto com a PM, resultando em 28 mortes – recorde até então. Alvo: rede de tráfico.

Apreensões: 20 armas. Incluiu a morte de um PM e uma moradora inocente por bala perdida. O MPF investigou execuções, e o STF condenou a ação como inconstitucional. Bolsonaro elogiou, mas ela acelerou restrições judiciais a operações letais.

Complexo da Penha/Vila Cruzeiro (2022)

Em maio de 2022, helicópteros e blindados invadiram Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, com 1.000 agentes. 24 mortos, incluindo três PMs.

Apreensões: 30 fuzis. Vídeos mostraram corpos arrastados, gerando acusações de chacina. O governador Cláudio Castro defendeu, mas ONGs pediram intervenção federal. Reforçou o controle do CV na região.

Complexo do Alemão (2022)

Julho de 2022: 800 agentes em nova incursão ao Alemão, com 17 mortes, incluindo uma comerciante inocente.

Foco: retaliação a ataques. Apreensões: 25 armas.

Salgueiro (2023)

Março de 2023: No Complexo do Salgueiro, São Gonçalo, 700 policiais deixaram 13 mortos em confronto com milícias.

Apreensões: 15 pistolas. Investigação revelou indícios de tortura, e o caso foi à ONU. Representou a expansão das ações para a Baixada.

A Megaoperação de Outubro de 2025: O Pico da Letalidade

Quinze anos após a ocupação icônica do Alemão, o Rio testemunhou, em 28 de outubro de 2025, a operação policial mais letal de sua história: uma megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, com 2.500 policiais civis e militares.

Deflagrada pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes, visava desarticular a cúpula do Comando Vermelho, com 100 mandados de prisão e 180 de busca, baseados em interceptações de WhatsApp e uso de drones pelo crime.

O confronto começou às 5h, com cerco pela Serra da Misericórdia – o “Muro do Bope” –, empurrando traficantes para a mata. Resultado: 121 mortes (117 suspeitos e 4 policiais, incluindo dois do Bope), 113 prisões (muitos em flagrante) e apreensão de 118 armas, sendo 91 fuzis – quase um recorde mensal.

Alvos como Edgar Alves de Andrade (Doca), ligado a 100 homicídios, permanecem foragidos.

Controvérsias explodiram: moradores removeram 70 corpos da mata para praças e retiraram vestimentas de guerrilha, impedindo perícias e gerando inquérito por fraude processual. Câmeras corporais falharam por falta de bateria, e a ONU cobrou investigação independente.

O governador Cláudio Castro celebrou o “golpe histórico” ao CV, mas protestos em Vila Cruzeiro reuniram milhares contra a “chacina”. Com audiências de custódia mantendo prisões, a ação reacende o debate: é segurança ou violação sistemática de direitos? Em um Brasil polarizado, ela simboliza o impasse entre ordem e humanidade.

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