Os cães acompanham a humanidade há milhares de anos, seja como companheiros fiéis, protetores de lares ou parceiros de trabalho. No ambiente militar, esses animais ganharam relevância estratégica, sendo utilizados em diferentes épocas e conflitos para missões que exigem faro, agilidade, coragem e lealdade.
Os cães militares são verdadeiros combatentes silenciosos, cuja atuação vai muito além do que a maioria das pessoas imagina. Neste artigo, você vai conhecer a história, as principais raças empregadas, os treinamentos, as missões em que foram fundamentais e o papel desses animais no Brasil e no mundo.
A História dos Cães Militares
A relação entre cães e forças de combate remonta à Antiguidade. Registros históricos mostram que civilizações como egípcios, romanos, gregos e persas já utilizavam cães em batalhas. Os egípcios, por exemplo, empregavam cães para proteger acampamentos e rastrear inimigos, enquanto os romanos chegaram a usar mastins com armaduras leves e coleiras cravejadas de ferro para atacar adversários.
Na Idade Média, os cães foram usados em castelos e campos de batalha, tanto para defesa quanto para ataque. Já no período moderno, especialmente a partir do século XIX, a função dos cães começou a se profissionalizar, passando da simples força de combate para papéis mais especializados, como mensageiros, farejadores de minas e cães de resgate.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), os cães desempenharam missões vitais como o transporte de mensagens, cabos telegráficos e primeiros socorros. Estima-se que mais de 50 mil cães foram utilizados pelas forças europeias no conflito.
Na Segunda Guerra Mundial (1939–1945), o número foi ainda maior: Alemanha, União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido empregaram centenas de milhares de cães em diversas frentes, desde o rastreamento até o combate direto.

As Melhores Raças para o Trabalho Militar
Embora muitas raças possam ser treinadas para funções militares, algumas se destacam por características físicas, comportamentais e cognitivas. Entre as principais estão:
- Pastor Alemão
Talvez a raça mais famosa no âmbito militar e policial. É altamente inteligente, corajosa, obediente e versátil, podendo atuar em missões de ataque, proteção, busca e resgate, além de detecção de explosivos e drogas. - Pastor Belga Malinois
Reconhecido pela agilidade, resistência e foco. É um dos preferidos das forças especiais em diversos países, inclusive no Brasil. É mais leve e rápido que o Pastor Alemão, o que facilita missões que exigem velocidade. - Labrador Retriever
Muito utilizado em operações de detecção devido ao olfato apurado e temperamento dócil. Tem um excelente desempenho em missões de busca de drogas, explosivos e pessoas desaparecidas. - Rottweiler
Conhecido pela força e coragem, foi amplamente utilizado em guerras no século XX, especialmente em funções de guarda e ataque. - Doberman
Já foi muito empregado no período da Segunda Guerra Mundial. Sua velocidade e lealdade o tornaram um grande parceiro em missões de guarda e patrulha. - Bloodhound (Cão de Santo Humberto)
Especialista em rastrear odores humanos. Seu faro é considerado um dos mais potentes do reino animal, o que o torna indispensável em missões de localização.

Essas raças são escolhidas principalmente pela inteligência, capacidade de aprendizado e controle sob comando.
O Treinamento dos Cães Militares
O treinamento é um dos pilares que transformam um cão comum em um soldado de elite. Geralmente, o processo começa quando os cães ainda são filhotes, com socialização e adaptação a diferentes ambientes e estímulos. Aos poucos, são introduzidos em atividades mais específicas, como:
- Obediência básica e avançada: resposta a comandos verbais e gestuais.
- Controle emocional: adaptação a sons de tiros, explosões e ambientes hostis.
- Ataque e proteção: treino para neutralizar ameaças sob comando, sempre com foco no controle.
- Busca e detecção: uso do faro para localizar drogas, explosivos, armas e até minas terrestres.
- Resgate: localizar vítimas em desastres naturais, escombros ou ambientes de difícil acesso.
- Missões especiais: infiltração silenciosa, transporte de equipamentos e até saltos de paraquedas junto com militares.
É importante destacar que os cães militares não atuam de forma autônoma. Cada um é acompanhado por um condutor ou adestrador, que cria um vínculo de confiança e parceria com o animal. Esse relacionamento é essencial para o sucesso da missão.
Missões e Funções dos Cães Militares
Os cães podem desempenhar uma variedade de papéis no ambiente militar:
- Detecção de explosivos e drogas
Função fundamental em aeroportos, fronteiras e áreas de conflito. O faro dos cães é capaz de detectar substâncias em quantidades ínfimas. - Busca e salvamento
Utilizados em terremotos, deslizamentos, enchentes e desastres, conseguem localizar pessoas vivas ou restos humanos sob toneladas de escombros. - Patrulha e guarda
Protegem bases, quartéis, depósitos e áreas estratégicas, funcionando como alerta antecipado contra intrusos. - Combate e ataque controlado
São treinados para neutralizar inimigos sob comando, protegendo seus companheiros humanos em situações de risco. - Mensageiros e logística
Na Primeira Guerra, eram usados para transportar mensagens e até cabos de comunicação em campo. - Psicológico e moral
A presença de cães nos destacamentos melhora o moral das tropas, aliviando o estresse em zonas de combate.
Guerras e Conflitos em que os Cães se Destacaram
- Primeira Guerra Mundial: usados para entregar mensagens e localizar feridos nas trincheiras.
- Segunda Guerra Mundial: atuaram em quase todas as frentes. A União Soviética chegou a treinar cães antitanques, enquanto os EUA usaram milhares em missões no Pacífico.
- Guerra do Vietnã: mais de 4 mil cães americanos foram empregados em patrulhas e emboscadas.
- Guerras modernas (Afeganistão e Iraque): cães Malinois e Pastores Alemães atuaram ao lado das forças especiais, detectando explosivos improvisados (IEDs).

O Uso de Cães Militares no Brasil
No Brasil, o emprego de cães pelas forças armadas e policiais é consolidado. O Exército Brasileiro mantém Canis de Guerra, unidades especializadas no adestramento e emprego desses animais. Os principais centros são:
- Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS): em Manaus, usa cães em missões de patrulha e rastreamento na selva.
- Centro de Instrução de Guerra Eletrônica (CIGE): em Brasília, que também conta com cães em atividades de segurança.
- Batalhões de Polícia do Exército (BPE): em várias cidades do país, empregam cães em patrulha, guarda e detecção.
Além das Forças Armadas, as Polícias Militares e Civis de diversos estados possuem canis próprios. O uso mais comum é na detecção de drogas, armas e explosivos, além de missões de resgate e controle de distúrbios. Em grandes eventos no Brasil, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, os cães tiveram papel essencial na segurança.
Curiosidades sobre Cães Militares
- Um vira-lata chamado Stubby tornou-se o cão militar mais condecorado da Primeira Guerra Mundial, participando de 17 batalhas.
- Cães Malinois já saltaram de paraquedas com os Navy SEALs dos EUA em missões de alto risco.
- O treinamento de um cão militar pode custar dezenas de milhares de dólares, dependendo da função.
- Muitos cães aposentados são adotados por seus condutores, mantendo o vínculo criado em serviço.
- Nos EUA, existe o Dia Nacional do Cão de Guerra, celebrado em 13 de março, em homenagem ao trabalho desses animais.

O Futuro dos Cães Militares
Com o avanço da tecnologia, muitos acreditam que drones e sensores eletrônicos possam substituir os cães em algumas funções. No entanto, o faro canino ainda é insubstituível: nenhum equipamento desenvolvido até hoje consegue superar a sensibilidade olfativa de um cão treinado. Assim, o futuro aponta para uma atuação complementar, em que cães militares e tecnologias modernas trabalharão lado a lado.
Os cães militares são mais do que animais treinados: são soldados leais, que colocam suas vidas em risco pelo bem de seus companheiros humanos. Ao longo da história, provaram seu valor em diferentes guerras e missões, e continuam desempenhando funções essenciais nas forças armadas e policiais em todo o mundo.
No Brasil, a presença desses cães é cada vez mais relevante, tanto na defesa do território quanto na segurança pública. Além da eficácia operacional, eles trazem consigo uma carga emocional e simbólica: representam a coragem, a disciplina e a parceria entre homens e animais.

