Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS): Formação de Guerreiros na Amazônia

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No coração da Amazônia, em meio à maior floresta tropical do planeta, está o Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), uma das mais prestigiadas e desafiadoras escolas militares do mundo. Responsável por formar guerreiros capazes de operar em um dos ambientes mais hostis e complexos da Terra, o CIGS combina tradição, rigor e excelência para preparar militares brasileiros e estrangeiros.

Seu brasão, carregado de simbolismos, traduz em cores e formas a bravura, a força e a mística que envolvem cada etapa dessa formação, eternizando valores que moldam a identidade do verdadeiro guerreiro de selva.

História do CIGS

O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), oficialmente chamado de Centro Coronel Jorge Teixeira, é uma organização militar do Exército Brasileiro localizada em Manaus (AM). Sua missão é qualificar militares para operar em ambientes amazônicos, desenvolvendo habilidades únicas para atuar em áreas de selva com alto grau de complexidade.

O CIGS foi criado em 2 de março de 1964, pelo Decreto nº 53.649, e teve como primeiro comandante o então major Jorge Teixeira de Oliveira, conhecido como “Teixeirão”. Suas atividades práticas começaram em 1966, com a primeira turma do Curso de Guerra na Selva.

Nos primeiros anos, parte dos instrutores foi treinada no Jungle Operations Training Center, no Panamá, influenciando diretamente a doutrina inicial da escola. O centro também participou de operações reais, como o combate à Guerrilha do Araguaia.

Durante o período de 1970 a 1978, recebeu o nome de Centro de Operações na Selva e Ações de Comandos (COSAC). Retornou à denominação original em 11 de janeiro de 1978. Em 1999, adotou oficialmente o nome histórico “Centro Coronel Jorge Teixeira”, em homenagem ao seu fundador.

Organização e Estrutura

O CIGS é subordinado ao Comando Militar da Amazônia e possui ligação técnica com a Diretoria de Ensino Técnico Militar. Sua estrutura é composta por diversas divisões e áreas especializadas, que garantem a eficiência do treinamento e da administração.

Unidade / ÁreaFunção
Companhia de Comando e ServiçoResponsável pela logística e administração do centro.
Campo de Instrução “General Sampaio Maia”Área de treinamento em selva com 1.152 km², conhecida como “Quadrado Maldito”.
Divisão de EnsinoPlaneja e organiza os cursos e treinamentos.
Divisão de Doutrina e PesquisaDesenvolve e atualiza táticas, técnicas e procedimentos para guerra na selva.
Divisão de AlunosGerencia e orienta os militares participantes dos cursos.
Seções de Saúde e VeterináriaGarantem a saúde dos militares e animais utilizados nas instruções.
Zoológico MilitarCriado para mostrar a fauna amazônica e apoiar a instrução, aberto também à visitação pública.

O Curso de Operações na Selva

O Curso de Operações na Selva é a formação mais conhecida do CIGS e uma das mais exigentes das Forças Armadas brasileiras. Ele é dividido em três fases:

  1. Vida na Selva – Ensina sobrevivência, obtenção de alimento e água, construção de abrigos e técnicas de orientação.
  2. Técnicas Especiais – Inclui transposição de obstáculos naturais, tiro, combate aproximado, navegação e comunicações.
  3. Operações – Simulação de missões reais, deslocamentos longos, combate e infiltração em território hostil.
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A duração total é de 12 semanas, com rotina intensa, sono reduzido (média de 4 horas por noite), alta exigência física e mental, fome controlada, longas marchas, simulações de combate e situações de estresse extremo.

A taxa de desistência é elevada, e os que concluem recebem o brevê com a “cara da onça” e o Facão do Guerreiro de Selva, símbolos de honra e superação.

Requisitos para Participar

Para participar do curso, o militar precisa atender a critérios específicos:

  • Patente:
    • Até 35 anos: Capitão, Tenente, Aspirante, Cadete, 2º e 3º Sargento.
    • Acima de 35 anos: Oficial Superior, Subtenente e 1º Sargento.
  • Origem: Pode ser do Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
  • Estrangeiros: Oficiais de países amigos podem participar do Curso Internacional de Operações na Selva (CIOS).
  • Inscrição: O militar deve solicitar ao comando da sua unidade, que encaminhará o pedido para homologação.

Além disso, é preciso passar por testes físicos, exames médicos e avaliações psicológicas.

Números e Alcance Internacional

Até meados de 2023, o CIGS formou mais de 7.100 guerreiros de selva, sendo cerca de 636 estrangeiros de diversos países. Entre os formados, há representantes do Exército, Marinha, Aeronáutica, polícias e bombeiros.

Em 2010, duas mulheres concluíram com sucesso o curso, marcando um feito inédito na história do centro.

O curso internacional atrai militares de países da América do Sul, América do Norte, Europa, Ásia e África, ampliando a diplomacia militar brasileira.

Missões e Operações

Militares formados no CIGS já participaram de diversas operações, como:

  • Missões de paz da ONU, incluindo a MONUSCO, na República Democrática do Congo.
  • Apoio a operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em território nacional.
  • Colaboração com forças de segurança pública na Amazônia, especialmente no combate a crimes ambientais e ilícitos transnacionais.

A expertise adquirida no curso é aplicada tanto em operações militares convencionais quanto em missões humanitárias e ambientais.

Símbolos e Tradições

O CIGS mantém uma forte mística e tradições próprias, que reforçam o espírito de corpo e a identidade dos guerreiros formados:

  • Animal-símbolo: Onça-pintada, representando força, agilidade e adaptação.
  • Facão do Guerreiro de Selva: Entregue ao final do curso, simboliza coragem e superação.
  • Brevê “Cara da Onça”: Distintivo que identifica o militar como especialista em operações na selva.
  • Leis da Guerra na Selva: Conjunto de princípios que regem o comportamento e a ética do guerreiro de selva.
  • Canções e poemas: Reforçam a união, a motivação e o orgulho de pertencer ao seleto grupo de formados.

Curiosidades

  • O campo de instrução é chamado de Quadrado Maldito devido às dificuldades e desafios que impõe aos alunos.
  • Menos de dez mortes foram registradas durante todo o histórico do curso, sendo a última em 2008, por afogamento.
  • O CIGS mantém um zoológico militar, que inicialmente servia para mostrar a fauna aos alunos, mas hoje também recebe visitantes civis.
  • Alguns militares estrangeiros que passaram pelo curso destacam que ele é ainda mais exigente do que treinamentos similares nos seus países de origem.
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Importância Estratégica

O CIGS desempenha papel crucial na defesa e na soberania da Amazônia. Ao formar especialistas capazes de operar nesse ambiente, o centro contribui para:

  • Aumentar a presença do Estado em regiões de difícil acesso.
  • Reforçar a segurança das fronteiras.
  • Proteger a biodiversidade e os recursos naturais.
  • Ampliar a cooperação internacional por meio do treinamento de militares estrangeiros.

A formação recebida no CIGS é reconhecida internacionalmente como uma das mais duras e completas do mundo em ambiente de selva.

Estrutura do Treinamento

O treinamento é dividido em módulos específicos, que incluem:

MóduloConteúdo
SobrevivênciaTécnicas para obtenção de alimento, água e abrigo.
CombateTiro, combate aproximado, emboscadas e patrulhas.
NavegaçãoOrientação por bússola, GPS e referências naturais.
TransposiçãoCruzamento de rios, pântanos e áreas de mata fechada.
Técnicas EspeciaisUso de cordas, rapel, resgate e primeiros socorros.
Operações FinaisMissões simuladas com cenário realista e alta pressão.

Perfil do Guerreiro de Selva

O militar formado no CIGS deve reunir características como:

  • Alta resistência física e mental.
  • Capacidade de liderança sob pressão.
  • Habilidade para tomar decisões rápidas.
  • Adaptabilidade a condições extremas.
  • Conhecimento aprofundado do ambiente de selva.

Essas habilidades tornam o guerreiro de selva um recurso estratégico para o Exército Brasileiro e para qualquer missão em ambiente hostil.

Leis da Guerra na Selva

As Leis da Guerra na Selva foram elaboradas para orientar o comportamento do guerreiro formado no CIGS, reforçando princípios de conduta, superação e espírito de corpo. Elas fazem parte da cultura e mística da unidade.

LeiDescrição
1. O guerreiro de selva é forte e resistenteCapaz de enfrentar adversidades físicas e psicológicas com disciplina e coragem.
2. É especialista em combate na selvaDomina técnicas e estratégias adequadas ao ambiente amazônico.
3. Vive da selva e com a selvaUtiliza os recursos naturais de forma inteligente, respeitando e aproveitando o bioma.
4. É solidário com seu companheiroA união é vital para sobreviver e cumprir a missão.
5. Está sempre pronto para a açãoMantém a prontidão física, mental e moral para qualquer missão.
6. Defende a Amazônia com a própria vidaColoca o dever de proteger a soberania e o território acima dos interesses pessoais.
7. Nunca se rendePersevera até o fim, independentemente das circunstâncias.

Significado do Brasão CIGS

O brasão do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) é carregado de simbolismos que representam a missão, os valores e a identidade da unidade. Aqui está a explicação de cada elemento presente:

1. Escudo

  • Formato: Remete aos escudos heráldicos tradicionais, simbolizando defesa e proteção.
  • Cor dourada (borda): Representa excelência, vitória e honra.
  • Campo verde (fundo): Simboliza a selva amazônica, ambiente principal de atuação e treinamento do CIGS.

2. Inscrição “CIGS”

  • Localização: No topo, em destaque.
  • Cor amarela com fundo azul e vermelho:
    • Amarelo: Energia, coragem e valor.
    • Azul: Lealdade, confiança e vigilância.
    • Vermelho: Determinação, bravura e o sangue derramado em combate.
  • A posição elevada da sigla simboliza o orgulho e a notoriedade da instituição.

3. Estrela prateada

  • Representa a excelência e a liderança na instrução militar.
  • Cor prata (ou branca) significa pureza de intenções, paz e integridade.
  • Também pode simbolizar o Norte, guiando e orientando o guerreiro de selva.

4. Onça-pintada

  • Animal-símbolo do CIGS.
  • Representa força, coragem, astúcia, agilidade e adaptação — características essenciais para a sobrevivência e o combate na selva.
  • A boca aberta e os dentes à mostra transmitem prontidão para a ação e combatividade.

5. Ramos de louro

  • Localizados nas laterais do escudo.
  • São símbolos universais de vitória, superação e honra.
  • Representam o êxito alcançado pelos militares que concluem o curso.

6. Base dourada

  • Pode simbolizar os valores sólidos que sustentam o trabalho do CIGS: disciplina, lealdade e profissionalismo.
  • A cor dourada reforça a ideia de conquista e excelência.

Legado e Futuro

O CIGS segue inovando em suas técnicas e expandindo seu alcance internacional. Com a crescente importância geopolítica da Amazônia, o centro deve manter e até ampliar seu papel como guardião de um dos biomas mais estratégicos do planeta.

A tradição, a mística e o alto padrão de treinamento garantem que o CIGS continue formando militares altamente qualificados e reconhecidos mundialmente.

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