A Embraer é uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo e um dos maiores símbolos da indústria brasileira de alta tecnologia. Nascida de um projeto de Estado para viabilizar uma indústria aeronáutica nacional, tornou-se um dos principais expoentes do setor no cenário global, com produtos civis, militares e executivos que voam em mais de 100 países.
Neste artigo, você vai conhecer em detalhes a trajetória da Embraer, os principais investimentos, seu papel no setor militar brasileiro, os modelos de maior destaque, os desafios enfrentados e o que se espera para o futuro dessa gigante brasileira.
O surgimento da Embraer: do sonho nacional à fundação
A ideia de criar uma indústria aeronáutica brasileira estruturada surgiu no início do século XX, mas foi em 1969 que o projeto se consolidou com a fundação da Embraer — Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. — em 19 de agosto daquele ano.
O contexto era de industrialização acelerada e de um programa estatal de fomento à tecnologia, impulsionado principalmente pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos (SP). O ITA formava engenheiros altamente qualificados e, junto com o Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), criou as bases para o primeiro grande projeto brasileiro: o avião Bandeirante.

O EMB 110 Bandeirante, projetado por uma equipe liderada por Ozires Silva (primeiro presidente da Embraer), foi um turboélice leve de transporte regional que inaugurou a produção em série no país. Foi a partir dele que a empresa ganhou relevância e garantiu contratos no Brasil e no exterior.
Primeiras décadas e expansão internacional
Nas décadas de 1970 e 1980, a Embraer se consolidou como fornecedora de aviões regionais e militares. Além do Bandeirante, lançou o Xingu (usado inclusive pela Força Aérea Francesa), o Brasília (EMB 120) — um turboélice pressurizado para até 30 passageiros — e o Tucano (EMB 312), um treinador militar que se tornou um dos mais exportados do mundo.

O sucesso do Tucano abriu portas para a exportação militar em larga escala, com adaptações para diferentes forças aéreas. Foi também nessa época que começaram os estudos para o jato regional ERJ 145, que viria a ser um divisor de águas na década seguinte.
No entanto, o fim dos anos 80 e o começo dos 90 foram marcados por dificuldades financeiras. Em 1994, o governo brasileiro privatizou a Embraer, que então passou por reestruturação radical. Sob nova gestão, a empresa focou em eficiência, inovação e no segmento de aviação regional, um nicho carente de jatos modernos.

O renascimento com os jatos regionais
A privatização e o foco estratégico permitiram à Embraer lançar sua família de jatos regionais ERJ 145, que se tornaram um sucesso comercial global. Esses jatos para 37 a 50 passageiros atenderam à demanda de companhias aéreas que precisavam conectar cidades médias a hubs maiores com mais conforto e velocidade que os turboélices.
Na virada do milênio, a Embraer deu um passo ainda maior com a família E-Jets (E170, E175, E190, E195). Com capacidades variando entre 70 e 130 passageiros, design moderno, economia operacional e conforto superior, os E-Jets colocaram a Embraer como a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo, atrás apenas de Boeing e Airbus.

Esses modelos voaram para mais de 100 companhias aéreas em mais de 50 países, reforçando a imagem do Brasil como um player importante na aviação mundial.
Impacto no setor militar brasileiro
A contribuição da Embraer para a defesa nacional é imensa. Desde os anos 70, a empresa tem atendido as necessidades da Força Aérea Brasileira (FAB) e de outras forças armadas, com projetos que vão de aviões de treinamento a transporte militar pesado.
Tucano e Super Tucano
O EMB 312 Tucano foi um dos marcos da indústria militar brasileira. Com mais de 600 unidades produzidas e exportadas para mais de 15 países, consolidou a Embraer no mercado global de treinadores militares.
Na virada dos anos 2000, surgiu sua evolução: o A-29 Super Tucano (EMB 314). Esse turboélice de ataque leve e treinamento avançado tornou-se um best-seller mundial para operações de vigilância de fronteira, ataque leve e contra-insurgência. O Super Tucano é famoso por sua robustez, baixo custo operacional e capacidade de operar em pistas não preparadas.
Foram vendidos mais de 260 Super Tucanos para países como Colômbia, Chile, Indonésia, Afeganistão e Estados Unidos (que os adquiriu para treinar pilotos estrangeiros em missões do programa LAS – Light Air Support).
Transporte militar: o KC-390
Outro capítulo importante na história militar da Embraer é o KC-390 Millennium, um jato militar de transporte tático e reabastecimento em voo, desenvolvido em parceria com a FAB. Trata-se de uma das aeronaves mais avançadas já produzidas no Brasil.
O KC-390 foi projetado para substituir o veterano Lockheed C-130 Hercules, oferecendo maior velocidade, capacidade de carga e custos operacionais competitivos. Pode transportar até 26 toneladas de carga, realizar evacuação aeromédica, lançamento de paraquedistas e cargas, além de reabastecimento em voo.
Ele já foi encomendado por Brasil, Hungria, Portugal, Áustria e Países Baixos, com interesse de outras nações — o que coloca o KC-390 como o maior programa militar de exportação da história da Embraer.
Outras linhas de negócios: aviação executiva e serviços
Além de aviões comerciais e militares, a Embraer consolidou-se na aviação executiva. Nos anos 2000, lançou os Phenom 100 e 300 (jatos leves e superleves de grande sucesso), e o Legacy 600/650 (categoria midsize).
Mais recentemente, os jatos Praetor 500 e 600 foram introduzidos como evolução da linha Legacy, oferecendo alcance intercontinental e tecnologias avançadas. Essa divisão garante receitas estáveis e diversificação de portfólio.
Outro pilar estratégico é o segmento de serviços e suporte. A Embraer desenvolveu uma vasta rede global de manutenção, treinamento e peças sobressalentes, oferecendo pacotes completos para operadores civis e militares.

Investimentos em inovação e tecnologia
A Embraer sempre se destacou pela capacidade de inovação, mesmo enfrentando restrições orçamentárias. O Centro de Tecnologia da Embraer, em Eugênio de Melo (SP), abriga centenas de engenheiros dedicados a desenvolver novas tecnologias.
Entre as apostas atuais estão:
- Projetos de propulsão híbrida e elétrica, com destaque para o conceito de eVTOL (aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical) desenvolvido pela subsidiária Eve Air Mobility.
- Aviação sustentável, com estudos para uso de biocombustíveis e redução de emissões.
- Digitalização e conectividade, incluindo novos sistemas de controle de voo, simuladores avançados e serviços digitais para clientes.
Esses investimentos visam manter a Embraer competitiva em um setor extremamente desafiador e em constante evolução.
A parceria com a Boeing e o fracasso do acordo
Em 2018, a Embraer e a Boeing anunciaram um acordo para criar uma joint venture que transferiria 80% da divisão de aviões comerciais da Embraer para a gigante americana, por cerca de US$ 4,2 bilhões. O objetivo era fortalecer a posição competitiva contra a Airbus (que havia incorporado o programa C Series da Bombardier).
Porém, em 2020, em meio à pandemia de COVID-19 e à crise do setor aéreo, a Boeing desistiu unilateralmente do acordo. A Embraer reagiu com ações judiciais, mas precisou replanejar sua estratégia sozinha.
O fim da parceria foi um golpe duro: a empresa teve prejuízos bilionários em 2020. Entretanto, já em 2021 e 2022 voltou a apresentar lucros, com entregas retomadas e crescimento em todas as divisões.
Tabela comparativa dos modelos mais icônicos produzidos pela Embraer
Vamos lembrar alguns dos principais modelos produzidos ao longo de sua história:
| Modelo | Uso Principal | Capacidade | Alcance aproximado | Principais características |
|---|---|---|---|---|
| EMB 110 Bandeirante | Transporte regional | 15–21 passageiros | 1.700 km | Primeiro avião produzido em série no Brasil; robustez e simplicidade. |
| EMB 120 Brasília | Transporte regional | Até 30 passageiros | 1.750 km | Turboélice pressurizado; muito usado nos anos 80–90. |
| ERJ 145 | Aviação regional | 50 passageiros | 2.870 km | Jato regional pioneiro da Embraer; sucesso mundial. |
| E-Jets (E170/175/190/195) | Aviação regional | 70–130 passageiros | 3.300–4.500 km | Família de jatos regionais best-seller global. |
| E-Jets E2 (E175-E2, E190-E2, E195-E2) | Aviação regional moderna | 80–146 passageiros | 3.700–4.800 km | M Motores novos, menor ruído e consumo reduzido. |
| EMB 312 Tucano | Treinamento militar | 2 tripulantes | 2.600 km | Treinador turboélice exportado para mais de 15 países. |
| A-29 Super Tucano | Ataque leve / Treinamento | 1–2 tripulantes | 1.500 km (missão típica) | COIN, vigilância, apoio aéreo; exportado para mais de 15 países. |
| KC-390 Millennium | Transporte militar | Até 26 toneladas | ~6.000 km (ferry) | Jato multimissão; destaque mundial no segmento. |
| Phenom 100 | Aviação executiva | 4–7 passageiros | 2.100 km | Jato leve, fácil operação e alto conforto. |
| Phenom 300 | Aviação executiva | 6–10 passageiros | 3.650 km | Jato superleve mais vendido do mundo. |
| Praetor 500/600 | Aviação executiva | 7–12 passageiros | 6.200–7.400 km | Classe midsize/super midsize; alcance intercontinental. |
Impacto econômico e social no Brasil
A Embraer é um motor de desenvolvimento regional e nacional. Emprega mais de 18 mil pessoas (diretamente) em unidades no Brasil e no exterior, além de gerar milhares de empregos indiretos em sua cadeia de fornecedores.
Suas fábricas e centros de engenharia em São José dos Campos, Gavião Peixoto e Botucatu, no interior paulista, são polos de alta tecnologia que formam profissionais altamente qualificados e atraem investimentos para a região.
A empresa também é um dos maiores exportadores do Brasil em valor agregado, gerando divisas, impostos e prestígio internacional. Para o país, ter uma empresa como a Embraer significa independência tecnológica em áreas sensíveis e potencial de crescimento econômico sustentável.
Expectativas para o futuro
O futuro da Embraer é promissor, mas também cheio de desafios. O mercado global de aviação passa por transformações profundas com a demanda por aviões mais eficientes, conectados e sustentáveis.
A empresa aposta em:
- Expansão das vendas de E-Jets E2, sua nova geração de jatos regionais com menor consumo de combustível.
- Crescimento do KC-390 no mercado internacional, consolidando-se como alternativa moderna ao Hercules.
- Aviação executiva, com novos pedidos dos modelos Phenom e Praetor.
- Eve Air Mobility, divisão focada em eVTOL e mobilidade aérea urbana elétrica.
- Serviços e suporte, segmento de margem elevada que garante receita recorrente.
Apesar da concorrência feroz e de oscilações econômicas, a Embraer tem expertise técnica, reputação sólida e base industrial consolidada para manter-se como líder em seu nicho.
A Embraer é motivo de orgulho nacional. Em meio a tantas dificuldades históricas, conseguiu transformar um sonho de soberania tecnológica em realidade industrial, criando aviões respeitados em todo o mundo. Com uma estratégia voltada para inovação, qualidade e nichos específicos, permanece como exemplo de como o Brasil pode competir no mais alto nível global.
Para quem acompanha a indústria ou sonha em voar cada vez mais longe, a Embraer é a prova viva de que talento, visão e perseverança podem criar um legado duradouro.

