O desenvolvimento do submarino nuclear brasileiro representa um marco histórico na defesa nacional e na consolidação do Brasil como potência estratégica no cenário internacional. Este ambicioso projeto, conduzido principalmente pela Marinha do Brasil em parceria com a França, é parte de um esforço contínuo para dotar o país de meios dissuasórios de alta tecnologia e de capacidade de atuação autônoma em águas profundas, especialmente na chamada “Amazônia Azul” — a vasta área marítima sob jurisdição brasileira, rica em recursos naturais e estratégicos.
Neste artigo, veja todos os aspectos relevantes do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub), com destaque para o Submarino com Propulsão Nuclear (SN-BR): seu histórico, cronograma, orçamento, capacidades militares e o impacto geopolítico do projeto.
1. O contexto estratégico do projeto
O Brasil possui mais de 7.400 km de litoral e uma Zona Econômica Exclusiva de cerca de 4,5 milhões de km². Essa área abriga 95% da produção de petróleo do país, importantes rotas comerciais e um imenso potencial pesqueiro e mineral. A defesa dessa região — conhecida como Amazônia Azul — exige capacidades navais compatíveis com o tamanho e a complexidade da missão.
Nesse cenário, os submarinos convencionais, embora discretos e eficientes, possuem limitações de autonomia e tempo submerso. Já os submarinos nucleares podem operar por meses sob a superfície, percorrendo grandes distâncias com velocidade e furtividade, representando um salto de capacidade em comparação às plataformas convencionais.
O projeto do submarino nuclear brasileiro visa atender a essa necessidade estratégica, permitindo à Marinha patrulhar com eficácia áreas distantes da costa e aumentar significativamente sua capacidade de dissuasão.

2. O ProSub e a parceria com a França
O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub) foi lançado oficialmente em 2008, durante o governo Lula, após a assinatura de um acordo com a França. O pacote incluiu a construção de quatro submarinos convencionais da classe Scorpène, com propulsão diesel-elétrica, e um submarino com propulsão nuclear — o SN-BR Álvaro Alberto.
A França forneceu os cascos dos submarinos e transferiu parte da tecnologia de construção, mas não compartilhou o reator nuclear — que está sendo desenvolvido exclusivamente pelo Brasil por meio do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e do Laboratório de Geração de Energia Núcleo-Elétrica (LABGENE), que simula em terra o funcionamento do reator do submarino.
Além dos submarinos, o ProSub envolve a construção do Estaleiro e Base Naval de Submarinos em Itaguaí (RJ), onde ocorre a montagem das embarcações.
3. Cronograma e prazos do SN-BR
A construção do SN-BR Álvaro Alberto, o primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, teve início oficial em 2018. O cronograma original previa que o submarino fosse lançado ao mar entre 2029 e 2030. Contudo, como em muitos projetos de grande porte e alta complexidade tecnológica, houve atrasos, sobretudo relacionados ao desenvolvimento do reator nuclear.
A fase crítica do projeto é a conclusão do LABGENE, que permite testar o reator em condições semelhantes às reais. O reator nuclear já passou por importantes marcos, como o primeiro funcionamento crítico em 2023. Segundo a Marinha, o SN-BR deve entrar em operação na década de 2030, mas a data exata depende do sucesso dos testes do reator, da integração dos sistemas e do andamento da construção.
Em resumo, o cronograma do SN-BR é o seguinte:
| Etapa | Previsão Inicial | Situação Atual |
|---|---|---|
| Assinatura do ProSub | 2008 | Concluído |
| Início da construção do SN-BR | 2018 | Concluído |
| Conclusão do LABGENE | 2023 | Em testes |
| Lançamento ao mar do SN-BR | 2029 | Mantido com cautela |
| Início da operação militar | 2031-2033 | Previsto |
4. Custo e orçamento do projeto
O ProSub é considerado um dos maiores investimentos militares da história do Brasil. Segundo dados da Marinha e do Ministério da Defesa, o valor total do programa ultrapassa R$ 40 bilhões, dos quais mais de R$ 20 bilhões já foram investidos.
O SN-BR Álvaro Alberto, por si só, está orçado em cerca de R$ 15 a R$ 20 bilhões, considerando tanto a construção do submarino quanto o desenvolvimento do reator nuclear. O custo elevado se justifica por diversos fatores:
- Tecnologia altamente sensível e inédita no Brasil;
- Desenvolvimento autônomo do reator;
- Infraestrutura industrial especializada (como o estaleiro de Itaguaí e o LABGENE);
- Treinamento de pessoal técnico e militares;
- Longo prazo de maturação (mais de 20 anos de desenvolvimento).
Vale destacar que, ao contrário de muitos programas internacionais, o Brasil optou por internalizar conhecimento e tecnologia, o que aumenta o custo inicial, mas reduz a dependência externa e permite autonomia futura.
5. Características do SN-BR Álvaro Alberto
Embora muitas informações sobre o SN-BR sejam sigilosas, algumas especificações já foram divulgadas ou estimadas com base nos dados da Marinha:
- Nome: Álvaro Alberto (em homenagem ao almirante responsável pelo início do programa nuclear brasileiro);
- Comprimento estimado: cerca de 100 metros;
- Deslocamento: aproximadamente 6.000 toneladas submerso;
- Propulsão: reator nuclear de 48 MW térmicos;
- Velocidade máxima submersa: cerca de 25 nós (46 km/h);
- Autonomia: virtualmente ilimitada (limitada apenas pela tripulação e mantimentos);
- Profundidade operacional: estimada em mais de 300 metros;
- Tripulação: cerca de 100 militares.
Um submarino nuclear como o SN-BR oferece vantagens únicas em termos de furtividade, capacidade de patrulhamento prolongado e capacidade de resposta rápida. Diferente de um submarino diesel-elétrico, ele não precisa subir à superfície com frequência para recarregar baterias, o que reduz sua vulnerabilidade a detecção.
6. Poder de fogo e armamentos
O Submarino Álvaro Alberto, assim como os Scorpènes brasileiros (classe Riachuelo), será equipado com modernos sistemas de armas. Embora o Brasil seja signatário do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e não possua mísseis balísticos nucleares, o SN-BR será uma poderosa plataforma convencional.
Espera-se que ele esteja armado com:
- Torres de lançamento vertical (VLS) ou lançadores horizontais para:
- Torpedos pesados tipo F21 (ou nacional equivalente);
- Mísseis antinavio (possivelmente o Exocet SM39);
- Mísseis de cruzeiro de longo alcance (futuramente, versões do AV-TM 300 do Exército podem ser adaptadas para uso naval).
Há também estudos no Brasil sobre o desenvolvimento de um míssil de cruzeiro naval com 1.000 km de alcance, a partir do programa nacional de mísseis táticos de precisão (como o MTC-300). A integração desse armamento em submarinos colocaria o país em um seleto grupo com capacidade de ataque estratégico de longo alcance a partir do mar.
7. Importância geopolítica e estratégica
A construção de um submarino nuclear coloca o Brasil em um grupo muito restrito de países com essa capacidade. Atualmente, apenas seis nações possuem submarinos com propulsão nuclear: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Índia.
Ao desenvolver sua própria embarcação com essa tecnologia, o Brasil:
- Eleva seu status internacional, sendo reconhecido como uma potência emergente com tecnologia avançada;
- Reforça a soberania marítima, sobretudo em áreas economicamente sensíveis como o pré-sal;
- Aumenta o poder de dissuasão, dificultando eventuais ameaças externas;
- Estabelece uma indústria nacional de defesa mais sólida e autossuficiente;
- Promove inovação tecnológica, com transferência de conhecimento para outros setores civis, como energia e engenharia nuclear.
Essa postura tem sido considerada essencial para consolidar a independência estratégica do país, dentro de um mundo cada vez mais multipolar e competitivo.
8. Desafios enfrentados
Apesar dos avanços, o projeto enfrenta diversos desafios:
- Orçamentários: os cortes no orçamento da Defesa atrasaram fases importantes do projeto, sobretudo entre 2015 e 2020;
- Tecnológicos: desenvolver um reator nuclear seguro e estável é uma tarefa de enorme complexidade;
- Políticos: mudanças de governo e prioridades interferem na continuidade de projetos de longo prazo;
- Logísticos: integrar diferentes sistemas, treinar pessoal e manter uma cadeia de suprimentos local exige esforço contínuo.
A manutenção do compromisso político e financeiro com o projeto é fundamental para que o SN-BR se torne realidade dentro do prazo previsto.
9. O futuro da frota submersa brasileira
Com a conclusão dos quatro submarinos convencionais da classe Riachuelo e do SN-BR Álvaro Alberto, o Brasil contará com uma das frotas submersas mais modernas da América Latina e uma das mais relevantes fora do eixo OTAN/China/Rússia.
A Marinha já planeja, para o longo prazo, a construção de novos submarinos com propulsão nuclear e melhorias na capacidade de projeção de poder. A experiência adquirida no ProSub servirá de base para uma segunda geração de submarinos, ainda mais autônomos e letais.
O Submarino Nuclear Brasileiro simboliza a busca do Brasil por soberania, inovação e protagonismo internacional. Embora seu custo e complexidade sejam elevados, os benefícios estratégicos, científicos e industriais são amplos e duradouros.
Ao investir no SN-BR, o Brasil envia uma mensagem clara: está preparado para defender sua soberania, explorar seu mar com segurança e ocupar um lugar de destaque entre as nações que dominam tecnologias críticas.
O desafio agora é manter o ritmo, garantir financiamento estável e concluir com sucesso as fases restantes do projeto. Se o cronograma for cumprido, o Brasil poderá navegar — literalmente — rumo a um novo patamar de poder naval.


