A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939–1945) marcou um capítulo importante na história militar do país. A Força Expedicionária Brasileira (FEB), composta por cerca de 25.000 homens, foi enviada ao teatro de operações na Itália em 1944 para combater as forças do Eixo.
Conhecidos como “pracinhas”, os soldados brasileiros se destacaram pela bravura e pelas táticas empregadas em combates desafiadores, especialmente na campanha italiana. Este artigo analisa em detalhes as táticas utilizadas pela FEB, o contexto histórico de sua atuação, os desafios enfrentados e o impacto de sua participação no conflito global.
Contexto Histórico: A Entrada do Brasil na Guerra
O Brasil inicialmente manteve uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial, mas a intensificação dos ataques de submarinos alemães contra navios brasileiros no Atlântico, especialmente em 1942, levou o governo de Getúlio Vargas a declarar guerra à Alemanha e à Itália em agosto daquele ano. A criação da FEB foi uma resposta direta a esses eventos, com o objetivo de demonstrar o compromisso do Brasil com os Aliados e fortalecer sua posição geopolítica no cenário pós-guerra.

A FEB foi oficialmente formada em 1943, sob o comando do general João Batista Mascarenhas de Morais. Após um período de treinamento intensivo, influenciado por doutrinas militares americanas, os pracinhas desembarcaram na Itália em julho de 1944, integrando o V Exército dos Estados Unidos, sob o comando do general Mark Clark. Eles atuaram principalmente na região dos Apeninos, enfrentando condições adversas, como terrenos montanhosos, clima rigoroso e um inimigo bem entrincheirado.
Organização e Estrutura da FEB
A FEB era composta por uma divisão de infantaria, com cerca de 15.000 homens, além de unidades de apoio, como artilharia, engenharia e logística, totalizando aproximadamente 25.000 militares. A divisão era dividida em três regimentos de infantaria (1º, 6º e 11º), cada um com cerca de 3.000 homens, além de batalhões especializados, como o de artilharia e o de engenheiros. A FEB também contava com um esquadrão de reconhecimento e uma pequena força aérea, a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação, que apoiava as operações terrestres.
Os soldados brasileiros receberam treinamento baseado em manuais americanos, adaptados às condições do teatro europeu. A influência americana foi marcante, desde o uso de uniformes e equipamentos fornecidos pelos EUA até a adoção de táticas de combate modernas, como operações combinadas de infantaria e artilharia, e o uso de patrulhas para reconhecimento e ataques rápidos.
As Táticas da FEB na Campanha Italiana
A campanha italiana apresentou desafios únicos para a FEB, que enfrentou a chamada Linha Gótica, uma série de fortificações alemãs nos Apeninos Setentrionais. As táticas da FEB foram moldadas por esses desafios, pelo treinamento recebido e pela necessidade de operar em coordenação com as forças aliadas. Abaixo, detalhamos as principais táticas empregadas:

1. Táticas de Infantaria
A infantaria era o coração da FEB, e suas táticas refletiam uma combinação de doutrina americana e adaptações às condições locais. As principais táticas incluíam:
- Avanço em terreno montanhoso: O terreno acidentado dos Apeninos exigia movimentos táticos cuidadosos. Os pracinhas utilizavam formações em linha ou colunas para manter a coesão, avançando sob cobertura de terreno para evitar fogo inimigo. Patrulhas de reconhecimento eram enviadas à frente para identificar posições alemãs e evitar emboscadas.
- Ataques coordenados: A FEB frequentemente lançava ataques combinados, com a infantaria avançando após bombardeios de artilharia ou apoio aéreo. Essa tática visava enfraquecer as defesas inimigas antes do assalto, minimizando baixas.
- Uso de pelotões e companhias: As unidades menores, como pelotões (cerca de 30 homens) e companhias (cerca de 120 homens), operavam com flexibilidade, permitindo manobras rápidas em terrenos difíceis. Os pelotões frequentemente se dividiam em grupos menores para flanquear posições inimigas.
2. Apoio de Artilharia
A artilharia da FEB, equipada com obuses de 105 mm e 155 mm fornecidos pelos EUA, desempenhava um papel crucial. As táticas de artilharia incluíam:
- Fogo de barragem: Antes de grandes ataques, a artilharia disparava salvas concentradas para suprimir posições inimigas, dificultando contra-ataques.
- Apoio contínuo: Durante os combates, os artilheiros ajustavam o fogo com base em relatórios de observadores avançados, garantindo precisão contra bunkers e ninhos de metralhadoras.
- Mobilidade: As unidades de artilharia eram repositionadas rapidamente para acompanhar o avanço da infantaria, garantindo apoio contínuo.

3. Reconhecimento e Inteligência
O esquadrão de reconhecimento da FEB e a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação eram essenciais para coletar informações sobre o inimigo. As táticas incluíam:
- Patrulhas de reconhecimento: Pequenos grupos exploravam o terreno à noite, mapeando posições alemãs e identificando pontos fracos nas defesas.
- Observação aérea: Os aviões leves da FEB, como os Piper L-4, realizavam voos de reconhecimento, fornecendo informações sobre movimentações inimigas e alvos para a artilharia.
- Interrogatório de prisioneiros: Capturados eram interrogados para obter informações táticas, como a localização de minas e fortificações.
4. Engenharia de Combate
Os batalhões de engenharia da FEB desempenhavam um papel vital, especialmente em terrenos minados e fortificados. Suas táticas incluíam:
- Desminagem: Equipes especializadas removiam minas terrestres, muitas vezes sob fogo inimigo, para abrir caminho para a infantaria.
- Construção de pontes e caminhos: Em rios e terrenos difíceis, os engenheiros construíam pontes provisórias e melhoravam trilhas para permitir o avanço de tropas e suprimentos.
- Fortificações defensivas: Após conquistar posições, a FEB construía bunkers e trincheiras para se proteger de contra-ataques alemães.

5. Táticas de Logística
A logística era um desafio constante, dado o terreno montanhoso e as longas linhas de suprimento. As táticas logísticas incluíam:
- Comboios de mulas: Em áreas onde veículos não podiam operar, mulas transportavam suprimentos, como munição e alimentos, para as linhas de frente.
- Pontos de distribuição: A FEB estabelecia depósitos avançados para garantir o fluxo contínuo de suprimentos, mesmo sob bombardeios.
- Coordenação com os Aliados: A dependência de suprimentos americanos exigia uma coordenação precisa para evitar atrasos.
Principais Batalhas e o Papel das Táticas
A FEB participou de diversas batalhas importantes na Itália, com destaque para:
- Batalha de Monte Castello (novembro de 1944 – fevereiro de 1945): Essa foi a operação mais longa e desafiadora da FEB. Após várias tentativas frustradas, a conquista do Monte Castello em 21 de fevereiro de 1945 foi um marco. A FEB combinou fogo de artilharia intenso, ataques coordenados de infantaria e patrulhas de reconhecimento para superar as fortificações alemãs. A persistência e a adaptação tática foram cruciais para o sucesso.
- Batalha de Castelnuovo (março de 1945): A FEB utilizou táticas de flanqueamento e bombardeios precisos para romper as defesas alemãs, demonstrando a eficácia de suas unidades de infantaria e artilharia.
- Batalha de Montese (abril de 1945): Um dos últimos combates da FEB, marcado por ataques noturnos e uso intensivo de artilharia para desmantelar posições inimigas.

Nessas batalhas, as táticas da FEB foram fundamentais para superar a resistência alemã, que contava com fortificações bem preparadas e tropas experientes.
Desafios Enfrentados pela FEB
A FEB enfrentou inúmeros desafios que testaram suas táticas:
- Terreno e clima: Os Apeninos eram um terreno montanhoso, com neve e lama, dificultando movimentos e logística.
- Inexperiência inicial: Muitos pracinhas não tinham experiência prévia em combate, o que exigiu adaptação rápida às condições de guerra.
- Dependência de suprimentos aliados: A FEB dependia quase inteiramente de equipamentos e suprimentos americanos, o que às vezes causava atrasos.
- Resistência alemã: A Linha Gótica era uma das defesas mais fortes do Eixo na Itália, com bunkers, minas e artilharia pesada.
Apesar desses desafios, a FEB demonstrou resiliência e capacidade de aprendizado, ajustando suas táticas ao longo da campanha.
Impacto e Legado da FEB
A participação da FEB na Segunda Guerra Mundial teve um impacto significativo. A conquista de Monte Castello e outras vitórias fortaleceram a reputação do Brasil no cenário internacional, contribuindo para sua inclusão como membro fundador da ONU. As táticas da FEB, embora baseadas em doutrinas americanas, foram adaptadas com criatividade e coragem, permitindo que os pracinhas enfrentassem um inimigo experiente em condições adversas.

A FEB sofreu cerca de 450 mortos e 2.000 feridos, números relativamente baixos em comparação com outras forças aliadas, mas que refletem o sacrifício dos pracinhas. Seu legado é celebrado no Brasil, especialmente no Dia da Vitória (8 de maio) e em memoriais como o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Rio de Janeiro.
As táticas da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial foram um testemunho da determinação e da capacidade de adaptação dos pracinhas. Apesar dos desafios de um teatro de guerra complexo, a FEB combinou treinamento americano, táticas inovadoras e coragem para alcançar vitórias significativas. Sua atuação contribuiu para a derrota do Eixo, além de marcar a história militar brasileira.